Felicidade por um Fio

Em Felicidade por um Fio, acompanhamos o processo de transição capilar de Violet (Sanaa Lathan), através de um enredo que entrelaça o autodescobrimento de uma mulher negra que passou a vida inteira tentando ser perfeita para ser aceita com uma história cômico-romântica com uma pitadinha de drama, para mostrar toda a evolução da personagem e seu amadurecimento.


Violet se considera uma mulher bem-sucedida. É uma publicitária renomada, tem um namorado médico que está prestes a pedi-la em casamento, é bonita e está cercada por pessoas que a amam. Porém, a moça vive em constante estado de alerta para que nada saia de seu controle. No seu aniversário de 35 anos quando, finalmente, Clint (Rickie Whittle) iria realizar o aguardado pedido, a vida de V. é virada de cabeça para baixo e ela toma um verdadeiro banho de água fria - literalmente.


Violet é tão perfeccionista com a aparência lisa e impecável de seu cabelo que virou refém do mesmo e quando se vê totalmente molhada, com os cachos à mostra, faltando poucas horas para o seu precioso jantar de aniversário, ela dá um jeito de consertar tudo. No entanto, nada sai como o esperado e o que era para ser uma noite maravilhosa de comemorações acaba em um verdadeiro desastre. Os dias seguintes também não são fáceis para a moça e após uma atitude desesperada, ela raspa todo o cabelo.


O filme é dividido em quatro atos que representa as fases da transição capilar da personagem, em cada pedacinho vamos nos conectando com toda a história de Violet e toda a problemática que o cabelo representa a ela. A cena do big chop, o grande corte, é carregada de emoções e apesar de considerar um filme clichê pelo enredo bem previsível em certos aspectos, ele nos traz uma uma história diferente que foge das convencionais e deixa a sua mensagem.

As histórias que entrelaçam a de Violet também são bem interessantes, a do cabeleireiro Will (Lyriq Benq)  e sua filha Zoe (Daria Johns), a conturbada relação entre V. e sua mãe Paulette (Lynn Whitfield)  e o apoio que seu pai Richard (Ernie Hudson)  representa dão o pano de fundo das pressões que a moça sofria desde criança. Estes personagens resgatam uma certa “humanidade” à V. que no início parece se importar muito com o próprio umbigo.


O filme aborda a questão da transição capilar de uma forma que vai além da mudança na aparência. Ele mostra como todas as pressões e padrões pré-estabelecidos na nossa sociedade nos faz acreditar que para sermos felizes temos que fazer parte desses padrões - custe o que custar. A mensagem da autodescoberta e do amor próprio prevalecem, mesmo nos momentos de maior dificuldade e medo da personagem e isso é muito próximo ao que muitas mulheres negras passam para aceitar os cachos-crespos, mas nem de longe só representa este público, pois ele fala de autoaceitação e isso não é só referente à questão racial, mas sim abarca muitos outros aspectos da vida de todas as mulheres.

A trilha sonora é um show a parte, incrível, e que traduz muito bem o que está passando na tela, destaque para um trecho de Black Mermaid recitado por Violet, que traduz perfeitamente seus sentimentos. Fazia tempo que não via uma comédia romântica tão gostosa e tão representativa, mostra que pode sim, ser clichê e ser original (por mais contraditório que isso possa parecer). O filme é baseado no livro homônimo “Nappily Ever After” de Trisha Thomas, não traduzido para o português - infelizmente. Está recomendadíssimo! ♥  


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