Venom

Venom é um personagem querido entre os leitores da Marvel, e um dos maiores inimigos do Homem Aranha. Nos quadrinhos, ganhou revistas e minisséries próprias, e chegou até a se tornar um anti-herói, como na minissérie Venom: Protetor Letal, na qual o filme é inspirado de certa forma.

Um personagem, portanto, consolidado e que merece um tratamento digno no cinema. A primeira tentativa foi em Homem Aranha 3 (2007), dirigido por Sam Raimi, um filme confuso e a ser esquecido. E agora temos seu retorno em um filme próprio. Entretanto, a questão que me rodeava antes de assistir ao filme era: é necessária uma obra solo desse personagem? Mais ainda, faria sentido uma retomada do personagem no cinema sem a participação do Homem Aranha, em um Universo Cinematográfico Marvel que já está todo interligado? Ao final da sessão, a resposta é que não, não precisávamos desse filme e, apesar de algumas qualidades e de momentos divertidos, o resultado final não é positivo.


Tudo começa com o retorno à Terra de uma nave espacial, contendo quatro espécimes alienígenas, e de um acidente na entrada no planeta, em que um desses espécimes desaparece. A nave é de propriedade da Fundação Vida, uma organização comandada por Carlton Drake, o principal antagonista na história (vivido por Riz Ahmed, também conhecido por sua participação como Bhodi, em Rogue One: Uma História Star Wars). Carlton é um gênio nas ciências e se apresenta à imprensa como um homem dedicado a melhorar a vida de todos no planeta, porém é egocêntrico e interessado somente em seu sucesso, utilizando-se de práticas violentas para alcançar os seus objetivos. 

Em seguida, conhecemos Eddie Brock, vivido por Tom Hardy, que vive em São Francisco – Califórnia, um repórter investigativo de sucesso nas mídias, de bom caráter e próximo a um casamento perfeito com Anne Weying (interpretada por Michele Williams). Após uma determinada decisão questionável, a até então quase perfeita vida de Eddie muda completamente e é nesse ponto que o filme finalmente segue um caminho interessante, mostrando como a realidade de Eddie se torna um inferno, e também o seu contato com um lado negro da realidade da cidade, como a pobreza, os indigentes e as extorsões. 

A muito aguardada aparição de Eddie como Venom demora a ocorrer, o que incomoda pois, afinal, queremos ver o personagem em toda a sua força. Porém, quando ocorre, é de encher os olhos. Os efeitos visuais do filme merecem destaque, demonstrando bem toda a agressividade e força de Venom, assim como os seus músculos gigantescos e o rosto apavorante, os traços principais dele nas HQs. 


O embate interior e exterior entre Eddie e Venom pode ser considerado outro acerto, pois rende, em boa parte do filme, alguns conflitos interessantes e cenas de ação que empolgam, contribuindo para a evolução da história.

Até aqui, o filme teria boas chances de terminar bem. Mas o que então acontece, para se tornar uma experiência pouco interessante?

Para começar, os personagens são caricatos e unidimensionais, o que é um reflexo da falta de profundidade do roteiro. Eddie é bom moço ao extremo e Carlton é um vilão sem nenhuma nuance na personalidade ou uma motivação clara para ser tão mau, reforçando estereótipos batidos e que tornam o filme muito artificial e pouco cativante. A própria Marvel já demonstrou que personagens complexos fazem toda a diferença, como Thanos em Vingadores: Guerra Infinita (leia a crítica aqui), um ser impiedoso, porém que também sofre com as suas decisões.

Essa superficialidade também se reflete nos diálogos pouco inspirados, e em cenas que pecam pela ingenuidade dos personagens e, nesse ponto, é de lamentar que Tom Hardy e Michelle Williams, artistas que já demonstraram competência em filmes anteriores, passem por momentos vergonhosos. No caso de Tom, o ator também tem a sua parcela de responsabilidade, pois o seu forte não é fazer humor, o que é visível em sua postura corporal e, principalmente, na forma como usa as expressões faciais. Michelle Williams faz o que pode e se mostra melhor que o seu parceiro em provocar risos, mas não tem uma atuação inspirada.


Em mais uma falha no filme, vemos uma jornada arrastada do alienígena simbionte desaparecido na queda da nave, movendo-se de corpo em corpo até chegar a São Francisco, para se reencontrar com os seus companheiros. A forma como os atores representam o controle exercido pelo alienígena, em movimentos e expressões do corpo, é tão ruim, que não sabemos de quem é a maior culpa, do roteiro ou dos próprios artistas. 

Ao final de tudo, não podemos também poupar o diretor, Ruben Fleischer, do ótimo Zombieland, que parece ter se esquecido de deixar os zumbis para trás, insistindo em inseri-los indiretamente no filme, em um resultado grotesco. 

Não sabemos o que ocorrerá após esse filme. O mais provável é que Venom continue em um universo à parte, como um anti-herói, porém muito dependerá da recepção do público. Se for um sucesso de bilheteria, teremos Venom 2. Sinceramente, espero que isso não ocorra.

Esse personagem continua merecendo um melhor tratamento, e a melhor solução seria a sua integração definitiva ao Universo Cinematográfico Marvel, esse sim um sucesso em planejamento e execução, o que faltou nesse filme.

Obs: há duas cenas pós créditos. A primeira irá agradar bastante aos fãs e a segunda...bem, deixo para você, leitor, tirar as suas próprias conclusões.


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