O Sol na Cabeça - Geovani Martins

Não tenho hábito de ler contos, mas a história do autor despertou o meu interesse pelo livro “O Sol na Cabeça”. Geovani Martins é carioca, morou em várias favelas do Rio de Janeiro, ama ler e escrever. Quando li a sinopse, meu amor de turista pelo Rio bateu em cheio, meu olhar de moradora da periferia de São Paulo também. E nesta conexão São Paulo-Rio, eu embarquei nessas histórias. 


 O livro é composto por treze contos independentes, mas que no fundo a gente enxerga seus enlaces e encontros. Percorremos o Rio de diversas formas por meio de várias perspectivas, mas todas com um quê autobiográfico, por isso tão difícil desvincular o autor -e sua vida-  da obra. Da infância ao jovem adulto, personagens distintos, mas pertencentes aos morros cariocas, o simples fato de ir à praia - que para muitos pode ser banal, resulta em um conto, um conto de muitas realidades.

Os textos são curtos, mas ágeis, Geovani transita entre os portugueses: o da oralidade e o da escrita, brincando com as palavras e as gírias e no conto seguinte retomando a “norma culta”. Acredito que essa abordagem pode incomodar alguns. Eu particularmente AMEI.

Ahh que autógrafo fofo! ♥ AMEI ♥
Optei por não “contar os contos” para não estragar ou direcionar a experiência de vocês, mas vou destacar alguns que gostei muitooo, são eles: Espiral, Roleta russa, O caso da borboleta, O mistério da vila e Travessia, menção honrosa para Rolézim, ele faz jus a fama que ganhou.

Os contos ganharam vida para mim, primeiro que tive uma identificação muito forte em boa parte deles. E bateu aquela certeza que mesmo estando em espaços geográficos diferentes, as favelas (ou comunidades, como preferirem...) são parecidas, seus problemas são recorrentes, existem e pulsam. As violências que essa população está a mercê são diferentes e iguais. Sim, é ambíguo… eu sei! Mas é real, são situações de pré-conceito e  julgamentos que, simplesmente, acontecem. Não precisando de motivo e a cada capítulo ou virada de página nota-se muito claramente essas nuances. 


Ao mesmo tempo que o livro mostra os mecanismos que movem essas comunidades, também apresenta uma perspectiva nova para quem sequer consegue imaginar como é ser morador e uma dessas engrenagens nesse grande sistema.  A todo o momento eu me pegava pensando “o quanto disso tudo ele, o Geovani, realmente participou… vivenciou?”. Fica aqui o questionamento. Se proponha a ler com o coração e a cabeça abertos para extrair o máximo dessa experiência, pois vale a pena. Livro super recomendado. ♥

Ninguém nasce borboleta. 🦋

Nota: 4/5★
O Livro no Skoob: O Sol na Cabeça

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