mãe!


Assisti na pré-estréia do Noitão Caixa Belas Artes o filme  “mãe!”, que estreia hoje, e devo dizer que o longa é de fato agressivo e nada fácil de digerir. Na sala de cinema, às duas da manhã era palpável o silêncio de quase 150 Glórias Pires que, ainda em transe, não eram capazes de opinar. O filme conseguiu algo raro de mim, me deixou sem palavras. Foram dois dias para eu poder escrever essa resenha e não digo que demorei dois dias pra sentar e escrever, mas que literalmente passei dois dias pensando sobre o que escrever, tentando fazer sentido daquilo que havia visto. E posso afirmar que diferente da minha primeira reação, quanto mais eu penso, mais me agrada o filme, mas ele não fica nem um pouco menos perturbador, muito pelo contrário.



Mais difícil do que tentar tirar entendimento dos meus sentimentos no momento em que os créditos subiam na tela, é falar sobre essa experiência sem spoilers, então minha crítica vai definitiva e propositalmente soar bem vaga e focar mais em como o filme deixa uma impressão no telespectador. Escolhi falar sem floreios o meu ponto de vista, o de uma pessoa comum que é apreciadora, mas nem de longe uma especialista em cinema. Não vou entrar em detalhes sobre o significado do filme para a arte, não vou detalhar aquilo que eu absorvi das alegorias apresentadas nem como eu entendi o filme, pois acho que isso prejudicaria a experiência de quem ainda vai ver, então decidi deixar para o espectador tirar suas próprias conclusões, ame ou odeie a vontade, mas vivencie por si mesmo (fique a vontade para  mandar mensagem depois que a gente discute detalhadamente, se quiser).

Noitão *---*
Devo explicar que eu não gosto de filmes de terror, então quando anunciei que ia ver “mãe!” na pré-estreia à meia noite, foi motivo para choque e piada entre meus amigos.  Dito isso, preciso compartilhar que a primeira impressão que tive é que o filme não tem nada a ver com o que o trailer faz parecer e devo alertar novamente que, se você puder fugir dos spoilers, certamente o impacto será maior. A verdade é que, apesar de não haver aquele consenso sobre a classificação em si e apesar de termos aí vários elementos que poderiam se encaixar num terror psicológico, para mim esse não é bem um filme de terror.


Não obstante, não há como negar que “mãe!” é um filme muito, muito tenso, que faz você se sentir como que em um pesadelo que não acaba jamais e vai ficando cada vez pior. O longa incomoda, sufoca, agonia e até enoja mais de uma vez. Tranquilamente, posso dizer que é o filme mais perturbador que já assisti. O filme começa leve, bonito e muito rapidamente vai tornando-se incômodo e suspeito, chegando num ápice caótico nos últimos vinte minutos que nenhuma pessoa sã poderia prever. Aliás, insano é uma boa definição. Insano e surreal. Eu queria muito ter filmado a minha reação e da sala inteira durante esses vinte minutos, aposto que seria algo mais ou menos assim:





Nadja e eu, da inocência ao trauma em 120 minutos
Não vou negar que sou fã da Jennifer Lawrence desde “O Inverno da Alma”, que rendeu sua primeira indicação ao Oscar de Melhor Atriz, e sei que muita gente na internet tem se demonstrado meio saturado com a atriz ultimamente. Mas independentemente da sua opinião sobre ela e mesmo sobre esse filme, não há como negar que sua performance é extraordinária, literalmente de tirar o fôlego. Ela brilha, entrega tudo de si e, com ajuda de escolhas certeiras de enquadramento, faz o expectador sentir suas angústias de forma palpável. Excepcionais também estão Javier Bardem, Michelle Pfeiffer e Ed Harris, com atuações que nos fazem reagir e que prendem do começo ao fim.

Darren Aronofsky é conhecido, dentre outras coisas, pela sua ousadia e com esse filme deixa claro que a linha entre ousadia e a pretensão é muito tênue, mas isso acaba que de certa maneira corroborando com sua obra. “mãe!” é um filme desconcertante e repleto de metáforas, no qual o diretor parece querer abarcar o mundo todo de uma vez, resultando em algo megalomaníaco, visceral e - não pouco - indigesto. Certamente não é um longa que vai agradar ao grande público, especialmente aqueles que buscam uma história direta ou um tradicional filme de terror com sustos, esses vão deixar a sala de cinema decepcionados ou mesmo indignados, com uma história que não lhes fará sentido. Aliás, quem tentar entender o filme de forma literal vai decerto odiar. Mas se você está disposto a assistir algo espantoso e brutal, aceitando o desafio de ir além das alegorias e desmontar peça por peça esse quebra-cabeças por um longo tempo depois de deixar o cinema, então vale a pena dar uma chance de ser chocado por “mãe!” como eu fui. Mas está avisado: o impacto não é pequeno.


6 comentários:

  1. Olá!

    Admito que o filme não é muito do meu estilo, mass adoro a atuação da Jennifer Lawrence e o filme tem sido muito bem comentado, então quem sabe eu dê uma chance.

    Beijos,
    Isa
    Viciadas em Livros
    Participe do Amigo Secreto Literário do Viciadas em Livros

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    1. Oi, Isa. Dá uma conferida sim. Uma coisa é certa, você nunca viu nada igual. Espero que goste.
      Bjs,

      Jack.

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  2. Oi Jack! Assim que eu sai da cabine eu pensei "cai todo mundo quebrar a cara achado que é terror"! Acho que o marketing confundiu bastante, mas é forte, intenso, e gostei muito das atuações <3 Olha, muito foda conseguir escrever sem spoiler! Vc tá de parabéns!

    Bjs, Mi

    O que tem na nossa estante

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    1. Mi, uma semana e o filme não sai da minha cabeça. Quanto mais eu penso, mais eu gosto!
      Obrigada, gostei muito da sua resenha, ficou super completa.
      Bjs,

      Jack.

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  3. Olá Jack,

    Esse filme está dando o que falar e sua resenha me deixou ainda mais curioso, espero poder assistir e opinar também....bjs.


    http://devoradordeletras.blogspot.com.br/

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