O tempo, a persistência e a "geladeira"


Raríssimas foram as vezes em que li um livro que não me agradava até o final, com exceção de alguns que precisei para a faculdade ou dos casos nos quais eu enganei a mim mesma, aguardando por uma melhora que jamais viria.



Um hábito que tenho é o de ler mais de um livro ao mesmo tempo, normalmente completamente diferentes entre si, e revezar entre eles conforme meu humor demanda e/ou a leitura instiga. Me agrada poder encostar um livro mais denso quando sinto a necessidade de dar umas risadas com algo mais leve depois de um dia ruim. Entretanto, esse hábito frequentemente implica em livros que demoram uma eternidade para serem terminados.

Incontáveis vezes eu comecei um livro na empolgação do “cheiro de livro novo”, aquela emoção de quem acaba de sair da livraria ou que acaba de abrir a encomenda que o carteiro entregou. Mas a verdade é que aquele não era o momento para eu ler aquele livro, seja por um motivo ou por outro, e isso causa mais um dos meus hábitos esquisitos que minhas amigas estranham: As quase intermináveis pausas na leitura. Sim, eu coloco meus livros na “geladeira”. Às vezes a leitura não está fluindo como deveria e não é porque o livro não me agrada, é porque… Sei lá porque. Eu simplesmente preciso estar no clima ou, o que me é muito comum, preciso de um tempo para digerir aquilo que estou lendo. Muitas vezes fico remoendo um livro pela metade antes de prosseguir, como foi o caso de Reparação, que eu dei a espetacular pausa de 6 meses na leitura e foi um livro que me marcou profundamente. Às vezes parece chegar a beira do abandono, mas consigo diferenciar o livro que pretendo fechar para não mais abrir do livro que daqui a semanas ou meses eu vou continuar de onde parei, com uma nova perspectiva e determinação.

Eu acredito no tempo certo das coisas e que às vezes não estamos prontos para determinada experiência num certo momento ou que o aproveitamento poderia ser maior fosse a hora mais adequada. Isso vale para a vida e vale também para a forma como encaramos a ficção. Quantas pessoas detestaram um filme na juventude para simplesmente passar a amá-lo na vida adulta? Eu já perdi as contas de quantas vezes passei por isso. Ou mesmo o contrário, desejar que tivesse lido um livro ou visto um filme quando se era mais jovem? Pois é… O tempo brinca com a gente. E é uma pena que meu vira-tempo não funciona de fato...

6 comentários:

  1. Amei, amei, amei esse texto. Traduziu bem como eu lido com minhas leituras, Jack, vc não está sozinha nessa. Também deixo livros parados por muito tempo, porque não sou obrigada a nada. Haha.
    Também acho que há o momento certo para cada leitura, exemplo disso foi quando eu li A cor púrpura da primeira vez, não tinha tanta empatia com as mulheres, não conhecia nada de sororidade, tampouco conhecia a história dos negros nos EUA, de fato eu gostei da leitura, mas foi só três anos depois que pude compreender do que a obra realmente tratava e que pude ver a beleza contida ali, além de toda a crítica etc.. Por isso também sou a favor das releituras.

    Tô adorando esses textos de vcs por aqui!

    Bjs da Hel <3

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    1. Obrigada, Hel.
      Essa coisa do tempo é engraçada mesmo. Há livros que eu amei quando jovem, mas não os entendi. Tipo Dom Casmurro, li quando tinha 12 e que visão do mundo se tem nessa idade? Depois de adolescente e fui entendendo melhor e de adulta mais ainda, mas desde sempre é um favorito meu.
      E sim, a gente muda tanto que o livro muda em nós e nós mudamos mais um pouco com o livro.
      Nós estamos bem animadas com essa nossa empreitada no blog, tem sido divertido se aventurar em outros tipos de escrita.
      Bjs

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  2. Oi, Jack!
    Eu não consigo ler somente um livro de cada vez. Já cheguei a ler uns quatro hahaha
    Beijos
    Balaio de Babados
    Participe da promoção seis anos de Caverna Literária

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    1. Hey, Luiza. Uma vez cheguei a ler seis e tive que fazer uma promessa de não abrir mais nenhum até terminá-los aushuauhsu
      Beijos

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  3. Oi Jaque! Que bela reflexão... eu sempre, todo ano, me vejo com um livro que não rende, nao desenrola. Ano passado foi 'O mundo de Sofia' e esse ano foi o 'Férias'. E como você disse, incrivelmente a gente muda.. hoje com meus 26 anos estou no 3º livro da Saga do Bruxinho mais fofo do mundo, Harry Potter, e to amando, ficando instigada e tudo!! E era uma coisa que super critiquei na adolescência!!

    Beijosss

    http://jeitodemulhereolhardemenina.blogspot.com.br/

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    1. Obrigada, Caroline.
      É engraçado, mas o momento precisa mesmo ser propício. Sobre HP, foi o livro que me ensinou a dar uma chance as coisas e acabou por mudar minha vida.

      Bjs

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