O Cavalo Perfeito - Elizabeth Letts

Poucos animais exercem tamanho fascínio como o cavalo. Sua beleza e porte majestoso atraem olhares por onde passa, encantando crianças e adultos desde tempos longínquos, colaborando com o homem seja na paz ou na guerra.


Por mais que os Estados Unidos utilizasse equipamento modernizado na Segunda Guerra Mundial, os animais ainda eram bastante usados pelos alemães, sobretudo para puxar artilharia pesada, trabalho extenuante que levou milhares a morte. Alguns equinos de sangue nobre foram poupados em busca do cavalo perfeito, e é essa história que Elizabeth Letts magistralmente conta em seu livro sobre a tentativa de criação de uma raça de cavalos ariana e do posterior descoberta por soldados americanos de um haras escondido com centenas de animais de elevados pedigrees.


O alemão Gustav Rau tinha uma tarefa durante a Segunda Guerra Mundial: criar uma raça de cavalos alemã utilizando os melhores exemplares que pudesse encontrar. Por conta da sua ideologia acreditava que apenas um alemão puro seria capaz de criar um cavalo dessa estirpe, e na falta de conhecimentos genéticos promovia cruzamentos consanguíneos achando que eles resultariam em melhorias para a raça. E assim como os nazistas roubaram diversas obras de arte, Rau partiu em busca dos melhores cavalos em terras invadidas durante a guerra, como o haras Janów Podlaski na Polônia, local de nascimento do puro-sangue árabe Witez.

Em Viena na Áustria, Alois Podhajsky, diretor da Spanische Hofreitschule, academia centenária de adestramento de cavalos da raça lipizzan, teme pela segurança e tradição envolvida em seus garanhões brancos como a neve capazes de atender comandos com o mínimo dos gestos.


E nos Estados Unidos, os homens se preparam para ir ao velho continente e o Coronel Hank Reed agora se vê em uma cavalaria sem cavalos. Entre os anos 1920 e 1930, a cavalaria norte americana se viu em um impasse, onde alguns diziam que os equinos serviam apenas como um meio de locomoção que poderia ser substituído por máquinas. Sendo assim, o Coronel foi para a Europa em uma cavalaria de metal, mas longe de esquecer o amor pelos animais.

A escrita de Elizabeth Letts é agradável e fluida e envolve do inicio ao fim. Por meio de conversas pessoais com descendentes das pessoas retratadas e leitura de monografias, arquivos e livros, a autora reconstrói o período na qual o livro se passa e nos situa na vida daqueles homens e animais desde antes da guerra. Os envolvidos são trabalhados de forma delicada e bem desenvolvida, fazendo com que o leitor crie um vínculo e se preocupe mesmo com aqueles que aparecem por pouco tempo. 


O cuidado se estende até aos cavalos, principalmente Witez, o equino polonês cujo nascimento se dá tão próximo da guerra e cuja vida acompanhamos durante todo o livro. A reverência com a qual a autora trata os animais, chamando-os de príncipes ou destacando sua nobreza, só aumenta todo o fascínio que eles exercem e encantam ainda mais o leitor. 

Encantadora também é a devoção daqueles que amavam esses animais e arriscaram suas vidas para salvá-los, fazendo com que inimigos se tornassem, se não amigos, pelo menos companheiros em busca de uma saída para aqueles preciosos cavalos. As passagens de Alois Podhajsky me emocionaram mais de uma vez e comprovam como homem e cavalo são capazes de viver na mais plena harmonia. As descrições de suas conversas sem palavras com o garanhão Neapolitano Africa parecem magia. 


Apesar do tom reverente, a autora não transforma o livro em um conto de fadas e a crueldade da guerra está bastante presente, rendendo passagens tristes e também revoltantes. Os soldados russos não tinham muita paciência com os animais, fuzilando-os ao menor sinal de rebeldia.

O best-seller do New York Times ganhou uma versão brasileira de primeira nas mãos da Editora Panda Books. Em capa dura, o livro tem o mais fino acabamento e é repleto de detalhes. Geralmente esse tipo de obra possui as fotografias reunidas no meio ou no final, e adorei que aqui elas estão espalhadas pelo texto, facilitando sua visualização e contextualizando ainda mais a história.



O Cavalo Perfeito apresenta uma história pouco conhecida e muito interessante envolvendo a Segunda Guerra Mundial. Aquele tipo de obra capaz de agradar os mais diversos públicos e que permanece conosco por dias e dias após o término da leitura. Entre momentos de tensão e de emoção, finalizei a leitura completamente fascinada com o amor daqueles homens pelos animais e eu não ficaria surpresa caso um dia seja anunciado que a obra será adaptada para os cinemas. O ano mal começou e O Cavalo Perfeito já se tornou uma das melhores leituras de 2019. 

Nota: 5/5 ★ ❤ 
O Livro no Skoob: O Cavalo Perfeito

Quando um homem se comunica com um cavalo, ele fala a língua do amor e, por isso mesmo, ele fala com toda a humanidade.

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