Justiça - Alex Ross

Um grupo de vilões dos mais variados, comandados aparentemente por Lex Luthor, une-se com o objetivo de promover mudanças no planeta, realizando atos de bondade (!) como a cura de doenças e de deficiências físicas da população. Alegam que os super-heróis se omitiram nesse papel e que poderiam ter melhorado a vida da população em todo o globo, e prometem um mundo melhor, livre de pobreza, desigualdades e doenças. 

Ao mesmo tempo, os heróis da Liga da Justiça misteriosamente estão desaparecidos, o que prejudica sua imagem, reforça a postura dos vilões e faz a imprensa e a própria população questionarem se de fato os heróis poderiam ter feito as mudanças necessárias e poupado o planeta de certos dramas.

Está aberta a trama de uma HQ de belo roteiro de Jim Krueger e traçados altamente realistas em pinturas de Doug Braithwaite e Alex Ross (um mestre, basta citar obras como Marvels e O Reino do Amanhã), que debate o papel do herói e seus limites na sociedade, bem como a compreensão de nossas responsabilidades na existência humana.


Esta saga está compilada em uma edição de capa dura belíssima, sendo lançada originalmente em doze capítulos, entre 2005 e 2007, e tendo até hoje uma participação importante como uma das obras mais grandiosas da Liga da Justiça. Esta edição é dividida em três atos, cada um com quatro capítulos.

O primeiro ato demonstra a ascensão dos vilões, bem como os acontecimentos contrários aos integrantes da Liga, os quais passam por situações extremamente difíceis. O grupo se mostra acuado e desagregado. Demonstra também como a população desesperada aceita a ajuda de seres considerados criminosos. O desespero e o desejo de terem seus maiores problemas resolvidos se sobrepõem a qualquer julgamento ético e tentativas de compreender as reais intenções dos vilões. 

O motivo que une vilões de características e poderes tão distintos é bem construído e explica como decidiram de repente se unir em um objetivo comum. Em suas mentes, não são vilões e estão fazendo o que consideram como correto pela preservação humana, enxergando os heróis como incapazes de impedir a destruição iminente do planeta.


Nesse momento, entram em discussão questões como: em um mundo com super-heróis, deveria haver pobreza, fome, deficiências físicas, desigualdades sociais e econômicas? Precisamos passar por tantas adversidades se temos semideuses capazes de fazer maravilhas por nós? Cabe aos heróis resolver nossos problemas e são eles mesmos capazes de tanto? Essas questões seduzem e permanecem em mente ao longo da HQ, provocando um debate interior interessante sobre o quanto nos consideramos responsáveis pelos nossos problemas e se entendemos o real motivo da existência de adversidades em nossas vidas.

No segundo ato, começamos a acompanhar os primeiros sinais de reagrupamento dos heróis e a busca por entender o que de fato está por trás das ações benevolentes dos vilões, e nesse ponto surgem diversos personagens secundários para reforçar a equipe. Há uma quantidade grande de personagens, tanto heróis como vilões. Para auxiliar o leitor a conhecer personagens menos famosos, a HQ conta com um excelente arquivo de extras, em que podemos conhecê-los pelo ponto de vista dos arquivos do Batman. 

A quantidade elevada de personagens pode assustar e fazer imaginar que seja preciso um grande conhecimento do universo DC para acompanhar a obra. Sem dúvida, os leitores mais experientes poderão apreciar a HQ ainda mais, entretanto não é preciso ser um especialista no universo para acompanhar a trama. Os personagens estão em sua versão mais pura, simples, e a história não ocorre em uma linha do tempo específica, ou seja, está em uma cronologia à parte da Liga, não exigindo leituras prévias. Vale ressaltar que alguns personagens secundários não são muito interessantes, porém o lado positivo é que acabamos conhecendo um pouco mais do universo DC. 

É interessante o recurso de narração em primeira pessoa muitas vezes utilizado na obra, dando vozes aos diferentes heróis e suas perspectivas. Podemos assim entender melhor como cada um enxerga a situação e seus dramas pessoais, em um cenário que é angustiante e exige esforços conjuntos da equipe. 

Então chegamos ao terceiro ato, com o ápice da história, contendo revelações e enfrentamentos muito variados entre heróis e vilões, com um resultado brilhante, em roteiro e recursos gráficos. Destaque para o Batman e a sua capacidade de construir planos ousados e detalhados, que nos surpreendem, e para a jornada da Mulher Maravilha, em um drama muito pessoal.


Infelizmente, a conclusão da história é breve, o que não faz sentido para uma obra tão extensa, e mais tempo poderia ter sido dedicado para debater os efeitos da crise. O que mudará na relação com a sociedade? O que o futuro reserva à Liga? E outra decepção está no pequeno aproveitamento do Coringa, um dos maiores vilões de todos os tempos. Sem dúvida, merecia um papel mais importante e, da forma como foi apresentado, fica a impressão de que foi colocado apenas para não se dizer que não apareceu de forma alguma na obra.

Apesar desses defeitos, a obra provoca reflexões interessantes, coloca os heróis em uma situação desafiadora e de alto risco, além de demonstrar uma Liga da Justiça ampla, com muitos recursos e capacidade de superação. É uma verdadeira história de embate entre o bem e o mal, porém com uma análise também do que caracteriza um herói ou um vilão, e os meios usados para fazer o que se considera como “correto”. Essa obra mostra a importância eterna dos heróis e da necessidade de que também façamos nossa parte na construção de um mundo como desejamos.

Considerando que o universo cinematográfico da DC ainda não se consolidou, seria uma ótima ideia usar essa obra como uma inspiração para a construção de novos passos em direção a um futuro filme da Liga da Justiça, que faça jus ao potencial e à criatividade da equipe. 

Nota: 4/5★
A HQ no Skoob: Justiça

Um comentário:

  1. Ahhh! Eu quero muito essa HQ <3 Ótima resenha!

    http://dosedupladeleitura.blogspot.com

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