A Diferença Invisível - Julie Dachez & Mademoiselle Carolin

Marguerite é uma jovem de 27 anos, aparentemente igual a todas as outras. Ela tem sua rotina, é inteligente, bonita, mora com o namorado, trabalha numa grande empresa e tem animais de estimação que ama. No entanto, ela é diferente. Marguerite sempre se sentiu deslocada e não conseguia entender o porquê para ela era tão difícil manter as aparências ao fazer coisas que todo mundo julga normal e que para ela eram tão desafiadoras e desconfortáveis. É assim que, cansada de se esforçar tanto para entender o que a diferenciava das demais pessoas, ela descobre que é autista e começa uma jornada transformadora de autodescobrimento.


Há poucos meses li uma matéria fascinante da BBC que contava a história de sete mulheres que só foram diagnosticadas autistas depois de adultas e o mais impressionante foi saber que aparentemente isso não é algo assim tão raro. A maioria dos autistas diagnosticados são do sexo masculino e o diagnóstico costuma ocorrer bem cedo, a isso soma-se o fato de que a maior parte dos estudos sobre o assunto foram feitos exclusivamente baseados em traços masculinos, o que aliado à falta de informação e mesmo preconceito, são alguns dos principais fatores que dificultam o diagnóstico entre as mulheres. Além disso, mulheres tendem a fazer um esforço maior para se encaixar e serem sociáveis e desde meninas aprendem a copiar o comportamento de outras meninas; dessa forma muitas meninas autistas passam a copiar a forma como as meninas não-autistas interagem umas com as outras e, dessa maneira, sem saber acabam mascarando alguns dos indícios mais óbvios que nos meninos levam ao diagnóstico, como a dificuldade de olhar outras pessoas nos olhos, por exemplo. Assim, não é raro que muitas mulheres acabem suspeitando que são autistas somente muitos anos depois, quando seus filhos são diagnosticados.



Foi assim que, alguns meses depois de ler essa matéria, os lindos traços de “A Diferença Invisível” chamaram a minha atenção na prateleira da livraria e minha curiosidade, que já havia sido despertada, me fez comprar essa que é uma das mais belas HQs que tive o prazer de ler em não sei quanto tempo.

As ilustrações e escolha de cores da talentosa Mademoiselle Caroline são admiráveis e transmitem perfeitamente as emoções e sensações da protagonista de maneira a fazer com que o leitor consiga entender realmente Marguerite e tentar se colocar em seu lugar, muitas vezes partilhando seu cansaço e desconforto, tanto quanto sua posterior liberdade e alegria. Já a escrita autobiográfica de Julie Dachez é clara e delicada, fazendo com que essa seja uma história contada de maneira encantadora e extremamente informativa, gostosa de ler e que realmente impressiona.



De maneira interessante, divertida, emocionante e extremamente cativante essa HQ desmistifica vários aspectos que envolvem o espectro do autismo, possibilitando entender melhor que ele existe de infinitas e diferentes formas em cada autista e muitas das lições de Marguerite aplicam-se a todos nós, afinal ninguém jamais deveria se sentir na obrigação de tentar se forçar a ser quem não é. Há uma beleza intangível em ser e se aceitar diferente e o autoconhecimento é um passo fundamental para entender como cada pequena ou grande particularidade faz cada pessoa singular.

“A Diferença Invisível” é mais do que uma história em quadrinhos, é uma experiência transformadora e, ouso dizer, uma daquelas que traz aquilo que há de melhor na leitura, que é o poder de fomentar a empatia, pois através dela vivemos realidades que não são as nossas e com as quais aprendemos a ser mais tolerantes e humanos.

Nota: 5/5★
A HQ no Skoob: A Diferença Invisível

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